quinta-feira, 27 de junho de 2013

A Árvore de Anita está morta. Só falta assinar a certidão de óbito

A chamada “Árvore de Anita”, uma figueira situada no Jardim Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos, centro histórico da Laguna, está morta.
Pode-se constatar visualmente o falecimento da planta ao se observar seu estado atual. Dois ou três galhos restantes (outros foram serrados) completamente secos (um deles inclusive, perigosamente podre ameaçando desabar), alguns minúsculos ramos e pouquíssimas folhas. É o que resta da árvore, considerada um ponto turístico-histórico da cidade. O próprio tronco está apodrecido. Fungos? Parasitas? Cupins? Ausência de água? Não sabemos. Constate nas fotos:





Sua lenta agonia começou há quase quinze anos e nada foi feito para sua recuperação.
Em 1999, através das páginas do meu jornal Tribuna Lagunense, publiquei várias matérias sobre o fato, inclusive com chamadas e fotos de capa, clamando às nossas autoridades que promovessem a recuperação/salvamento da árvore, através de estudos e contratação de técnicos (botânicos) para análise das causas. À exemplo da figueira da Praça XV de Novembro, na capital do estado, que recebe atenção permanente da Floram. Ninguém deu bola.

Veja as matérias. Para ampliá-la basta clicar sobre as fotos:




Um pouco de história

Em 1839, os revolucionários farroupilhas construíram dois barcos no estaleiro de Camaquã, no Rio Grande do Sul. Transportados em carretas até a praia de Tramandaí, foram lançados ao mar. Um deles naufragou, o Farroupilha, e o outro, o Seival, pela barra do Camacho chegou a Laguna em 22 de julho de 1839.
Em 15 de novembro daquele ano acontece a batalha naval entre as esquadrilhas farroupilha e imperial, vencida por esta última.
Os legalistas apossaram-se dos navios farroupilhas, entre eles o Seival, que mudou de nome, virando Garrafão e sendo usado no transporte de mercadorias do interior para a então Vila da Laguna.
Depois, inservível, foi abandonado na então chamada praia do estaleiro, ali perto do hoje Colégio Stella Maris.

O Barco Seival em 1915.

Conta-nos Saul Ulysséa em sua obra “Coisas Velhas”, que tentou, na ocasião, transformar o barco num monumento histórico. Veja: 

“Tive ocasião de me entender com o chefe do governo municipal e com o presidente do Conselho, lembrando-os de que aquele navio deveria ser adquirido pela Municipalidade e transformado em um monumento histórico, dando-lhes então o plano para sua transformação.
Tempos depois, um médico italiano que aqui clinicava, o dr. Paes, comprou o barco com o fim de transportá-lo para a Itália, segundo afirmavam.
Novamente insisti com o governo municipal para desapropriá-lo, não permitindo ser retirado da Laguna, principalmente para o país estrangeiro, uma relíquia histórica.
Antes de ser efetivada a desapropriação, em uma noite foi o barco vandalicamente destruído, ficando somente a quilha que, naturalmente devido ao tamanho, deixaram no local.
Muitas pessoas foram ao sítio onde estivera o velho Seival e entre eles um piloto de nome Antônio Joaquim de Souza.
Este, vendo em uma parte apodrecida da quilha uma muda de figueira que ali nascera casualmente, teve a feliz ideia de retirá-la e levá-la ao chefe do governo municipal para que fosse plantada no Jardim Calheiros da Graça, o que foi efetuado”.

A muda da figueira foi transplantada por Antônio Joaquim de Sousa que a ofereceu ao Governo Municipal, que através do superintendente Oscar Pinho mandou plantá-la no jardim no início da década de 20, em solenidade cívica, com a presença de inúmeras autoridades, banda de música, escolares e grupo de escoteiros.
  
Árvore de Anita em 1926.  João dos Santos Areão, Salvato Pinho, João Guimarães Cabral, José Arthur Boiteux, Antônio Guimarães Cabral e Ruben Ulysséa.


Até 1939 a chamada “Árvore de Anita” foi o único monumento em nossa cidade que lembrava a heroína lagunense. A Primeira homenagem, creio eu, foi o Clube Anita Garibaldi, no Campo de Fora, fundado em 30 de novembro de 1889. Quando do centenário da República Catarinense, em 1939, foi erigido na então Praça da Bandeira (hoje República Juliana) um obelisco homenageando Anita Garibaldi.

Depois, em 20 de setembro de 1964, em seu lugar foi construído a estátua de Anita, com o obelisco sendo transferido para a pequena praça no início da rua Almirante Lamego, no bairro Campo de Fora.

***

Sugestões à atual administração da Laguna:

a)   Promover estudos técnicos, através da Fundação Lagunense do Meio Ambiente (Flama) para analisar o que está acontecendo com muitas árvores do Jardim Calheiros da Graça, que estão apodrecidas e/ou secas. Fungos? Parasitas?

b)  Já que a morte da Árvore de Anita está constatada visualmente, que tal retirar uma muda (que ainda existe) e replantá-la no mesmo local, numa solenidade cívica, com participação, por exemplo, da Fundação Lagunense de Cultura, Secretaria de Turismo?

c)    Intercâmbio com autoridades do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Petrópolis), de onde a quase totalidade das árvores foi trazida, em 1915, para um novo replantio de espécies.

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