terça-feira, 29 de outubro de 2013

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI - (Bertolt Brecht)

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Portal de transparência do Governo Federal informa que ainda não houve prestação de contas do Convênio 336352 – Restauração, informatização e modernização da Biblioteca Pública Romeu Ulysséa

Consultando o Portal de Transparência do Governo Federal, obtém-se a informação que ainda não houve a prestação de contas do citado Convênio. A data de início de vigência é 07/06/2010, com seu fim em 30/06/2013. Já vencido, portanto.
Pelo Portal também ficamos sabendo que o proponente, ou convenente, foi a Fundação Lagunense de Cultura, repasse da União de R$ 299.144,21 com contrapartida do município de R$ 89.789,24, totalizando R$ 388.933,45.
No objeto do Convênio está lá o parágrafo escrito que até agora não se concretizou:

“Restaurar, informatizar e modernizar a Biblioteca Publica Romeu Ulysséa da cidade de Laguna - Santa Catarina, com escopo de melhorar a exposição do monumento e de seu acervo, fazendo do seu espaço um lugar de lazer para os estudantes, democratizando de forma prazerosa o conhecimento, estimulando o estudo e a leitura”.

O Convênio, portanto, está aguardando a PRESTAÇÃO DE CONTAS.
(Para ampliar basta clicar em cima) Veja:



Ou beba na fonte:

Se o leitor quiser acessar todos os convênios firmados com o município da Laguna, situação, valor conveniado, liberado, etc., de 1996 a 2013, basta acessar:


Se tiver tempo e curiosidade saberá de muitos pormenores:
Por exemplo:

Convênio 704158 – A República em Laguna em sua 4ª edição – 2009, no valor de R$ 500.000,00, está aguardando a prestação de contas;

ou o Convênio 506905, que está inadimplente e trata-se de APOIAR AS AÇOES DE FORMAÇAO TECNICA E CIDADA DE JOVENS DE COMUNIDADES-PESQUEIRAS TRADICIONAIS DA REGIÃO DO COMPLEXO LAGUNAR E SUAS RESPECTIVAS FAMILIAS, ATRAVÉS DA VIABILIZACAO DE CONTRATAÇAO DE INSTRUTORES PARA MINISTRAREM OS MÓDULOS RELACIONADOS A ATIVIDADES DE PESCA E AQUICULTURA”.
Valor: R$ 100.000,00, firmado sabe com quem? Ministério da Pesca e Aquicultura.

Fica-se sabendo também que os três maiores Convênios do Governo Federal com o município da Laguna, nos valores de R$ 2.100.000,00; R$ 1.950.000,00; e R$ 800.000,00 foram, respectivamente:

1.  RECUPERAÇÃO E RECONSTRUÇÃO DE INFRAESTRUTURA DANIFICADAS POR ENXURRADAS, VISANDO O RESTABELECIMENTO DA NORMALIDADE NO MUNICIPIO DE LAGUNA”;

2.       “REVITALIZACAO DA ORLA MARITIMA DA PRAIA DO MAR GROSSO”;


3.     e “IMPLANTACAO OU MELHORIA DE INFRA-ESTRUTURA URBANA E EQUIP. COMUNITARIOS”. 

Este último encontra-se concluído.


Enfim, farto material para pesquisar e acompanhar. Divirta-se.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Biblioteca Pública Romeu Ulysséa: mais de vinte mil livros encaixotados, no chão, há quase seis meses

A Semana Nacional do Livro e da Biblioteca começa hoje e vai até 29 de outubro. Não há o que comemorar na Laguna. Vinte mil livros de sua biblioteca municipal estão encaixotados, por falta de estantes

Há quase seis meses, estudantes, professores, pesquisadores e demais leitores que se dirigem à Biblioteca Pública Romeu Ulysséa, da Laguna, situada no antigo Ginásio Lagunense, na rua Voluntário Fermiano, ficam frustrados e saem do local indignados.

O motivo? Mais de vinte mil livros ainda estão encaixotados no piso, no meio do grande salão.

São dicionários, enciclopédias, romances, obras didáticas e sobre Laguna, algumas delas raras e que não podem ser consultadas porque estão fechadas em caixas de papelão.
Estantes velhas, enferrujadas estão no pátio
Faltam estantes para expor milhares de obras e as poucas que existem, em ferro, não ideais, tem mais de vinte anos e estão enferrujadas. Várias delas pelo estado imprestável estão depositadas no pátio no fundo do prédio.

Não há sala de multimídia, muito menos internet, e os poucos computadores continuam em caixas, a maioria precisando de manutenção. O mobiliário da Biblioteca deixa a desejar, composto de mesas velhas e obsoletas. Registros de frequentadores ainda são feitos numa antiquada máquina de escrever.
Material de informática em caixas
Atualmente, 6.455 mil pessoas estão cadastradas como leitores na Biblioteca Pública.

O prédio sofreu obras de restauração na administração passada desde a primeira semana de janeiro de 2011 e foi aberto à população em maio deste ano.

Uma plataforma elevatória (elevador) instalado não funciona e o assoalho em madeira não recebeu uma camada protetora de sinteco.

Anexo não foi restaurado e elevador não funciona
Chama a atenção também, por qual motivo o imóvel anexo, situado nos fundos e em continuação ao prédio principal (antigo laboratório de química à época do antigo Ginásio Lagunense, para quem conheceu), não foi restaurado. Há que se consultar o projeto descritivo para sabermos se ele estava incluído. Mas pelo divulgado à época deveria estar, veja abaixo:

Revitalização do prédio
Quando da divulgação das obras de restauro lá no início de 2011, consta no site e release distribuído pela prefeitura:

“A obra contempla todo revestimento, pintura, cobertura, assoalho, projeto e execução de sistemas de alarme e anti-incêndio, cozinha nova, banheiro adaptado para deficientes físicos, salas para inclusão digital e educação infantil.


Para a acessibilidade dos visitantes, um elevador irá conduzi-los aos três andares do local. O primeiro, com novo portão lateral, será usado para educação infantil. O acervo bibliográfico se situará na segunda parada e no terceiro andar, o acervo do professor e arquiteto Wolfgang Ludwig Rau, que receberá uma sala climatizada com tratamento paisagístico e luminotécnico
”.

E mais:

Os recursos contemplam ainda todo mobiliário novo. O repasse do Ministério da Justiça será de R$ 299.144 mil e contrapartida da prefeitura no valor de R$ 89.789 mil.

O projeto foi elaborado pela Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação e aprovado pelo Conselho Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos, vinculado ao Ministério da Justiça”.

Os sanitários antigos então existentes sofreram alterações e, pasmem, a pequena copa/cozinha para funcionários ficou situada exatamente entre os dois sanitários masculino e feminino! É caso ou não de interdição pela Vigilância Sanitária? Mesmo assim a copa/cozinha, que está sem porta, mesmo tendo um forno de microondas, fogão e geladeira simplesmente não funciona porque não existe pia nem instalação externa para o botijão de gás.
 
Copa/cozinha, situada entre
dois sanitários, não funciona
A Biblioteca e seu acervo havia sido deslocada para uma sala situada na avenida Calistrato Muller Salles, no Portinho, longe do centro da cidade e que não atendia a demanda. Em maio deste ano retornou a sua origem.

O outro lado
Em maio deste ano, a secretaria de Comunicação Social divulgou em release à imprensa e no site da prefeitura que o mobiliário e outros equipamentos para a Biblioteca municipal seriam adquiridos através de uma licitação. 
Quase seis meses se passaram e até o momento não foi feita a licitação para aquisição do mobiliário.

A nota publicada finalizava: “A intenção de acordo com a Secretaria de Educação é não deixar os leitores sem acesso ao acervo. Após a colocação dos móveis, a biblioteca estará disponibilizando toda a sua oferta de livros”.

Histórico
O prédio onde funciona a Biblioteca Pública Municipal, primeiramente, era habitado pela família do coronel Manoel Luiz Martins, exportador e armador. Em 1894 foi adquirido pela Prefeitura e transformado no Instituto Municipal de Educação.
Em 1911, o superintendente do município, Oscar Guimarães Pinto, reuniu as freiras da cidade para instalar no local o colégio Stella Maris, onde ficou sediado até 1929.

Em 1932, no governo de José Fernandes Martins, foi fundado no local, o Ginásio Lagunense que foi mantido até 1964, quando foi construída a sede do Conjunto Educacional Almirante Lamego – Ceal, no campo do Lamego.

Já funcionou também ali, prefeitura, secretaria de Educação e câmara de vereadores.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Muda da Árvore de Anita foi plantada em Cidreira, no Rio Grande do Sul. Enquanto isso aqui na Laguna...

Enquanto aqui na Laguna a Árvore de Anita está morrendo juntamente com outras árvores quase centenárias do Jardim Calheiros da Graça, e ninguém dá bola, fazendo até pouco caso, no município de Cidreira, no Rio Grande do Sul, a história é bem diferente. Eis uma ótima comparação a ser efetuada pelos munícipes e eleitores no modo de governar e pouca visão de nossos representantes e autoridades.

Em 2011, levada daqui semente que depois virou muda, a secretaria de Educação e Cultura daquela cidade realizou o Projeto Cultural “Árvore de Anita e as Comemorações Farroupilhas”.
Tratou-se de plantar uma muda de figueira remanescente da “Árvore de Anita Garibaldi” e descerramento de placa.

Assim, na tarde de 16 de setembro de 2011, aconteceu o Plantio da Árvore de Anita Garibaldi, e descerramento da placa em homenagem a esse feito, no Largo João Ferreira Fraga, próximo ao Posto 24h Eva Dias de Melo.
E a solenidade contou com a presença de alunos, professores das escolas municipais e estaduais, como a professora Maria Cardoso Faistauer, banda municipal, comunidade e autoridades, entre elas o então prefeito Beto Pires (DO PMDB), o presidente da Câmara vereador Cláudio Cardoso e a secretária de Educação e Cultura Mercedes Giroleti de Paula.
Confira algumas fotos postadas no site da prefeitura de Cidreira-RS. Para ampliá-las basta clicar sobre elas:

Estudantes com o prefeito, no plantio da muda
Placa alusiva ao evento
Solenidade com Banda de música
Secretária de Educação e Cultura Mercedes Giroleti de Paula, Vereador Claudio Wolf,
Profª Maria Faistauer, e Prefeito Beto Pires.


Viram como se faz? O valor que se dá? E não é na Itália não, é aqui no Brasil. Valorizam mudas. Aqui temos a Árvore de Anita e a deixamos morrer. E eu é que sou o chato, cri-cri pernilongo, crítico de assuntos menores quando abordo esse tipo de questão. 
Querem somente receber elogios, mal acostumados que estão por alguns áulicos, pelos baba-ovos. 
E parece, para os atuais administradores lagunenses, somente valer grandes projetos, de vultosas somas e inúmeras viagens. Já vimos esse filme na administração passada e deu no que deu. Não aprenderam a lição?

Enquanto isso outros municípios criam atrações turísticas, incentivam a história e cultura (e não possuem 10% da nossa). E a história da Laguna é muito mais rica, pois não? Afinal são 337 anos.

Para beber na fonte, basta clicar em:

Em 2009, outra muda daqui também foi levada e plantada no município de Tramandaí. Veja reportagem:

http://www.jornalnh.com.br/cotidiano/218632/muda-de-arvore-de-anita-e-plantada-em-tramandai.html

E em Osório, mais uma muda da Árvore de Anita, foi plantada naquela cidade em setembro de 2011. Para ler:





Cenas que não precisavam mais existir

Estas cenas já se tornaram comuns na Laguna: dezenas de bicicletas acorrentadas em postes e barras de placas de sinalização.

Tudo isso porque não existem bicicletários decentes e em quantidade adequada instalados em vários pontos do centro.
E a demanda é grande, principalmente de empregados no nosso comércio e de ciclistas oriundos dos mais diversos bairros.
Fala-se muito em mobilidade urbana, em incentivar o uso da bicicleta, isso e aquilo, mas fica-se no discurso e em reuniões improdutivas que não levam a ações concretas.

É básico, é primário, mas não é feito. Precisa-se também elaborar grandioso projeto para isso? Ir a Brasília? A Florianópolis?

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Galho despenca da Árvore de Anita

Mais um galho apodrecido despenca da chamada Árvore de Anita, no Jardim Calheiros da Graça. 

A continuar assim, se não houver nenhum tipo possível de salvamento, só restará o tronco. E olhe lá!
Triste fim de um atrativo turístico-histórico da nossa Laguna.
Já abordei esse assunto em junho deste ano. 

Veja aqui:


Continua anotado aqui no Blog, a promessa feita pela Fundação Lagunense do Meio Ambiente, através de sua presidente Amenar Oliveira, para um trabalho de limpeza, desinfecção e revitalização da Praça, principalmente as palmeiras imperiais. Para isso, inventário arbóreo e autorização do Iphan já teriam sido efetuados, conforme informado. Então, o que está “emperrando”?
Projeto para realização dos serviços estava em andamento lá em junho. Estamos em outubro.

Li e gostei


Nota de falecimento +

Sepultada na manhã do último sábado em nossa cidade, a senhora Belmira Martins, aos 90 anos, progenitora de Ana Rita, Ana Lúcia (Castro) e Ângela.
Dª Belmira por muitos anos foi funcionária da agência dos Correios da Laguna.

Sentimentos aos familiares e amigos.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A gruta da Genoveva ou a Genoveva da gruta

Release enviado semana passada pela prefeitura da Laguna informa que fará a implosão de uma pedra na Praia do Iró (na verdade são vários blocos). Veja a foto. É bem aquela que sempre atrapalhou o tráfego de veículos e pedestres.
A implosão faz parte do projeto da Secretaria de Planejamento Urbano para urbanizar a região com a colocação de decks, mirante e calçadas. 

Não era sem tempo. Nunca entendi porque os governantes da cidade, de todas as épocas, não valorizaram o local, ampliando-o e executando mirantes sobre as pedras de granito rosado. O visual é magnífico, além de ser um ótimo ponto de observação de botos e baleias, inclusive com instalação de binóculos. E há necessidade de uma calçada em continuação a do Mar Grosso. A verdade é que temos inúmeras belezas naturais, mas pouco exploradas.

O engenheiro e secretário do Planejamento Urbano, Daniel Roberge, a presidente da Fundação Lagunense do Meio Ambiente (Flama), Amenar de Oliveira estiveram vistoriando o local, juntamente com o técnico de segurança, Willian Floriano. Nos próximos meses, a pedra deverá ser implodida. A intenção, de acordo com o secretário Roberge, é construir decks onde os pedestres poderão caminhar e conhecer a praia do Iró. 
Para implosão da pedra será tecnologia já utilizada em outras obras, a argamassa expansiva. Segundo o técnico em segurança Willian Floriano, esse método é bem mais rápido e não causa nenhum dano nas estruturas ao redor.
O processo é feito da seguinte forma: perfuração da pedra, e depois a colocação da argamassa, com isso, facilita e agiliza todo o trabalho. A data e horário deverá ser anunciado nas próximas semanas.

A gruta
Sobre o bloco de pedras, existe hoje uma pequena caverna conhecida por gruta da Genoveva. Lembro que há 35, 40 anos, quando pescávamos no local em nossa turma, era ali que nos abrigávamos das chuvas repentinas. O local em frente era dos mais piscosos, com seus mariscos e siris, que no recuo das ondas ficavam na areia das reentrâncias das pedras, lá embaixo. Com molinete, muito papa-terra pesquei por ali, local perigoso onde qualquer escorregadela seria fatal. Com o passar dos anos e recuo do mar, a prainha se formou e ficou um baixio. Em maré vazante hoje praticamente se atravessa a pé, defronte ao costão.
Dizem os mais antigos que antes da abertura da via que passa pelo local, existiu uma enorme caverna, em dois cômodos cortada ao meio quando surgiu a estrada. Nela morou uma senhora franzina, que pedia esmolas pela cidade carregando sempre um ramalhete. E ouvi muitas estórias sobre ela, inclusive que teria sido uma feiticeira que preparava suas próprias poções numa grande panela de ferro.

O saudoso José Bessa, em seu livro Gente da minha terra, escreveu belo texto sobre a Genoveva da gruta. Nela, em licença poética, discorreu sobre quem teria sido a mulher. Sem dúvida daria um filme ou no mínimo um documentário.
Mas Bessa salienta, ao final, que gostaria que a história da Genoveva tivesse sido como ele narrou. “Mas, a realidade como a vida, na maioria das vezes é vazia, não oferece grandes lances”. Belas palavras e verdades de José Bessa.
Querem ler a crônica? Pois aqui está:

 ******
A Genoveva da Gruta
Por José Bessa

A gruta ficava à beira da praia, nos rochedos do costão. Nessa época o mar vinha cá em cima, batia sobre a escarpa em rampa suave e subia, lambendo com a espuma branca o lajeado vermelho. Lá na ponta, os mariscos pretos, uma franja de limo verde. Depois o mar resolveu recuar, abandonando por completo suas visitas à encosta inclinada. Em cima como um comandante atento às atividades dos seus subordinados, ficava a gruta, uma enorme laje de pedra, com quatro a cinco metros de altura e uns vinte de comprimento, apoiada em alguns pontos sobre outros blocos de granito rosa-encarnado, fechado por trás, formando uma grande caverna.

Um pouco à esquerda abaixo, começa, ou terminava uma praia, deserta de casas e de gente, rica em peixe e frutos do mar. Sua imponência, de uma beleza rude e bruta, com areia fina e branca, cômoros que se deslocavam ao sabor dos ventos dominantes. Nas ventanias do nordeste que assobiava assustador entre as frestas da gruta, a praia e a encosta tornavam-se mais horrivelmente belas, na força do vento, na violência do mar, no passeio da areia seca, voando a pouca altura, castigando as pernas nuas das pessoas. A cada obstáculo se amontoavam. O paralelismo das ondas que se formam na quebrada da maré, com a espuma na crista que se desmancha na praia, ao longo daqueles quilômetros de extensão, numa monotonia que não cansa, sempre a despertar a curiosidade, como se repentinamente surgisse das profundezas do oceano o monstro Titã para devorar Andrômeda.

É a praia, mais as encostas escarpadas, sucedidas pelos morros verdes, para novamente voltar à restinga de areia bege.
É a solidão de quem não está só. Parece haver fantasmas familiares por toda parte nos acompanhando. É triste na sua imensa amplidão que nos farta de um sentimento de liberdade, gostosamente melancólico. Nada mais do que céu, mar e areia, mas parecem esconder surpresas que poderão surgir a qualquer momento; nos fala muito intimamente de fantasias sexuais, aventuras incríveis por acontecer.

Próximo, no alto do morro, onde hoje está um belíssimo hotel, havia uma casa para doentes contagiosos, conhecido como “Lazareto”. Era comum na época, os navios chegarem, trazendo portadores de males transmissíveis. Levavam imediatamente para serem ali isolados. Quem sabe, hoje, quantos fantasmas dormem naqueles ricos apartamentos?

Ilustração: Joris Marengo/Livro Gente da Minha Terra
A gruta lá está, impassível, dura, indiferente, como se perscrutasse a tudo e a todos. Não sente, não fala, mas, compõe magnificamente bem a paisagem. Dentro, mora uma mulher. Chama-se Genoveva, dando o nome ao local, a Gruta da Genoveva.
A natureza, caprichosa ou caridosamente, montou quarto e sala. Um espaço mais amplo na entrada e ao lado, meio escondido, um vão menor. No centro da sala uma pequena fogueira e atrás dela, com um olhar enigmático, a mulher, velha, enrugada de franzir o senho para enfrentar o vento salgado, bronzeada dos sóis de inverno e verão.
Sua origem, ninguém sabe, ela não conta.

Como pode viver ali? Ninguém se importa em saber. Vive de siris, mariscos e peixes, acompanhados quase sempre de pirão de farinha de mandioca e, quando possível uma xícara de café com um pedaço de pão seco. Algumas vezes esmola pela cidade, afastada uns cinco quilômetros, amparando-se na caridade alheia. Ao passar pela praça entra na igreja. Posta-se ereta, fecha os olhos numa atitude de quem está orando. Certa vez um cidadão muito carola, chamou-lhe a atenção rispidamente, mandando ajoelhar-se para rezar. Respondeu – e quem lhe disse que estou rezando de pé?

Nunca se soube de qualquer ato de banditismo praticado contra ela, vivendo naqueles ermos. Que se saiba possui duas poderosas armas de defesa: a lenda de ser uma poderosa feiticeira e um cheiro forte de restos de peixe, cascas e outros dejetos jogados por ali. Quando pela cidade, Genoveva exalava um cheiro agradável, mistura de ervas. Na verdade, há um córrego descendo o morro e passando próximo à gruta, possibilitando-lhe certa higiene e servindo para abastecer de água doce as suas panelas muito pretas, sobre o fogão no chão, próprias para um bom feitiço. Nunca se soube como ela resolvia suas necessidades fisiológicas.

A sua aparência não é das mais simpáticas. Mais alta do que baixa, magra, nariz avantajado, rosto fino, tez muito clara, cabelos lisos desalinhados e descuidados. Diziam que era inglesa ou descendente de ingleses e o seu verdadeiro nome, Jane. Quando moça, contavam, veio para o Brasil, casada com um engenheiro de minas, brasileiro, que esteve fazendo curso na Inglaterra. Morou muitos anos no sul do estado, onde o marido trabalhava em minas de carvão. Teve quatro lindas louras crianças, às quais dedicava toda a sua desambientação no país. Amava-as duas vezes: amor de mãe e de estrangeira que não se adaptou bem à nova terra. O marido compreendia o desajuste e tudo fazia para amenizar a situação.

Os tempos passaram e uma tragédia num choque entre o automóvel da família e o trem, deixou-a só no mundo. Não conseguiu reunir forças sequer para voltar ao seu país. Desesperada, fechou-se cada vez mais na sua desdita e foi perdendo aos poucos a razão. Quando avistava um grupo de crianças parecia recobrar o equilíbrio, para, em seguida, voltar à sua apatia. A companhia onde seu esposo havia trabalhado, foi até certo ponto condescendente e compreensiva, mas acabou tomando-lhe a casa destinada ao novo engenheiro que veio substituir o seu marido. A princípio pessoas caridosas a recolheram. Depois saiu vagando e desapareceu por muito tempo, ou que sabe, para sempre.

Anos mais tarde surgiu aquela mulher na beira do mar, falando com certa dificuldade, com todas as características de uma estrangeira. Julgaram ser a inglesa. Esta suspeita se tornava quase certeza quando à vista de uma criança loura seu semblante se transformava, parecendo adquirir uma nova vida.

Os grupos escolares costumavam fazer piquenique na praia nos dias ensolarados de outono e primavera. Numa das vezes, o tempo quente convidava a um banho de mar e duas meninas com idade de dez anos, burlando a vigilância das mestras, entraram na água e foram colhidas por traiçoeira corrente. Uma agarrada à outra debatiam-se desesperadamente, enquanto apavoradas colegas e professoras, da praia a tudo assistiam impotentes. Chegaram a entrar no mar, mas sem coragem de enfrentar as ondas traiçoeiras.

Genoveva, de dentro de sua gruta foi alertada pelo alarido, pois, ainda, não havia percebido a presença da excursão. Exímia nadadora e profunda conhecedora das manhas do mar e suas correntes traiçoeiras, em poucos minutos alcançou as crianças e contornando a saída d’água, trouxe-as tranquilamente à praia. As pequenas não sofreram mais do que um grande susto.

O fato, muito comentado, tornou-se por demais conhecido. Genoveva perdeu o sossego. Passou a ser visitada com frequência. Os pais das jovens resgatadas mostraram muita gratidão, trazendo-lhe ajuda de toda espécie, mas, dali ela não quis sair. Sua vida mudou. O seu próprio drama já adormecido, como guardado nos compartimentos do seu cérebro, despertou, foi trazido para fora. A depressão aumentou. Seu ato heroico, que bem poderia ter melhorado suas condições de vida, ao contrário, deixou-a prostrada.

Naquelas bandas eram comuns os temporais de leste, a chamada lestada. São sete dias, no mínimo, de chuva com vento do mar que, ao final, se torna intermitente, enquanto as rajadas mudam constantemente de direção.
Foi durante um período desses, de chuva fina fustigada pelo vento forte que Genoveva desapareceu. Ao longo da costa, a dezenas de milhas de distância, fica uma ilha deserta. Há quem afirme que a viu nadando para lá.

A gruta ficou abandonada durante muitos anos, servia de refúgio para pescadores e excursionistas, até que um raio deslocou um dos apoios e a enorme laje ruiu fragorosamente, fazendo um tremendo estrondo. Ainda bem que não haviam pessoas no seu interior, abrigando-se da tempestade, o que era comum.
Com o progresso foi construído um belíssimo hotel nas proximidades do local onde ficava a gruta e com isto a necessidade de uma estrada de acesso em boas condições, cujo traçado cortou aquela laje que havia sido o teto da Genoveva, em forma de caixa e que ainda hoje pode ser vista em duas partes, com a rodovia ao meio.

Desapareceu parte da cena que abrigou uma grande dama, a ser verdadeira a identidade da Genoveva, a coincidir a sua loucura mansa com o desvairamento da inglesa Jane. Pouco restou do espaço onde viveu um cérebro ansioso por encontrar explicação para uma aparente injustiça dos Céus, a destruição de sua família.
Os homens, com o desenvolvimento, trocaram a beleza agreste pelo conjunto de instalações balneárias capaz de atrair turistas de todo o mundo e que sepultou para sempre as cinzas e o carvão que restou das fogueiras que mantinham aquecida nas noites de inverno a Genoveva.


A verdadeira história de Genoveva é um pouco diferente. Ela era baixinha, andava sempre com um ramo de flores seguro nas duas mãos e completamente desequilibrada mental. Morava na gruta, isto sim, Gostava de rezar na igreja, é verdade. E é uma pena que a sua verdadeira vida não tenha sido a que foi contada antes. Assim eu preferia que fosse. Teria sido muito bonita, mais recheada de fatos. Mas, a realidade como a vida, na maioria das vezes é vazia, não oferece grandes lances. As únicas coisas que tornavam a Genoveva diferente, era morar na gruta e ser demente. E assim fica muito triste!

sábado, 5 de outubro de 2013

Lagunense se destaca

Fico sempre feliz em destacar quando um lagunense brilha em alguma área. Pois reproduzo abaixo, matéria publicada no site da prefeitura da Laguna, destacando o trabalho e sucesso da lagunense Caroline Gariba, (a filha do Gariba e da Jane, não tem?).
Leiam o texto e nos reunimos nos aplausos e na torcida pelo sucesso da Caroline.


Série Talentos: Artista lagunense tem desenhos publicados em revistas nacionais

O relógio despertou sete horas da manhã, o dia vai começar. Como de costume, um banho e um bom café com leite como combustível. Para não perder tempo no trânsito de São Paulo o trabalho vai ser feito do escritório de casa.
Antes de tudo é preciso uma boa música para despertar a inspiração. Ao som de “Plain Gold Ring” de Nina Simone, em volta dos livros de seus artistas preferidos, papéis, muitos lápis e tintas, a lagunense de 22 anos, Caroline Gariba, ou Carol para os amigos, começa seus desenhos.
 
Caroline Gariba
A ilustradora 2D já teve seus trabalhos publicados em revistas como a Super Interessante, Mundo Estranho, Runner's World, Computer Arts, entre outras. Atualmente, Caroline trabalha em uma agência/produtora chamada Tequilla, em São Paulo. A empresa dá a disponibilidade de o funcionário trabalhar do escritório de casa. 
Há aproximadamente dois anos, Caroline foi para São Paulo crescer profissionalmente. “Meu namorado é designer e recebeu uma proposta de trabalho na capital de São Paulo, foi a oportunidade que tive tanto para impulsionar minha carreira, quanto para juntar as escovas”, afirma em meio a risos.


Influência dos pais
A vontade de trabalhar com desenho começou quando Caroline cursou Publicidade e Propaganda na Unisul, em Tubarão. No final do primeiro semestre do curso e depois de trabalhar em pequenas agências, conhecendo o funcionamento do mercado de propaganda, ela descobriu o desenho digital, e desde então não parou mais.
Por mais que a ideia de levar o desenho como meio de trabalho tenha nascido após entrar na universidade, a lagunense sempre foi apaixonada pela arte. “Eu desenhei a vida inteira, desde muito nova tive influência dos meus pais através de filmes, música e fotografia. Minha mãe, sendo artista plástica, me incentivou e ensinou muita coisa, daí nasceu o amor pela ilustração”, esclarece.

Dicas profissionais
Para aqueles que querem entrar no universo da ilustração, Caroline garante que é preciso divulgar o trabalho, procurar profissionais da área, perguntar e tirar dúvidas. Além disso, estudar e dedicar várias horas do dia naquilo que deseja fazer para o resto da vida. “Não se comprometer com a evolução do seu trabalho é um tiro no pé”, adverte.

Processo criativo
Antes de iniciar um trabalho, Caroline faz uma ampla pesquisa sobre a arte pedida pelo cliente. A partir da análise sobre o tema, a ilustradora começa o esboço inicial. “Procuro imagens relacionadas, trazendo com elas poses, paleta de cores e composições que me ajudam a compor o desenho”, esclarece.
Primeiramente a ilustração é feita em papel, depois é escaneada para ser pintada através do Photoshop. “Chegando a uma ideia interessante e condizente e tendo um briefing em mãos, costumo desenhar livremente, é o momento "blue sky" onde posso criar sem limitações.”, explica. 
 
Desenho para o Cataflam, feito pro infográfico que está no portal iG. Esse foi o trabalho que Caroline mais gostou de fazer por ser dinâmico. “Pude trabalhar bastante perspectivas diferentes e variadas paletas de cor”, afirma.
Saudades da Laguna
Caroline sente falta da leveza do ar, da praia e do barulho do mar de sua cidade natal. Conversar com a família e os amigos pela internet e pelo telefone ajuda nos momentos de saudades. 
Depois de um dia de trabalho, Caroline gosta de assistir alguns episódios de suas séries preferidas e jogar vídeo game com o namorado. Perto da meia noite, ela se prepara pra dormir. É hora de aproveitar o silêncio para descansar, já que às seis da manhã começa o barulho e o movimento em São Paulo.

                                                                                                             

Fonte: PML

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Cabeças e cargos começam a rolar na prefeitura da Laguna

Por conta de um decreto (3.808, de 19/09/2013) publicado pela prefeitura, um enxugamento do quadro começa a ser efetuado neste início de outubro. Até porque há a necessidade de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. É muito dinheiro para o custeio e muito pouco para investimento, conforme palavras do procurador Geral da prefeitura Vitor Baião Pereira. Na verdade a máquina está inchada e uma reforma administrativa começa a ser efetuada.
Veja o decreto na íntegra no link:


Entre as medidas tomadas estão:
·         Exoneração de 20% de servidores ocupantes de cargos comissionados;
·         Exoneração de 30% de cargos comissionados ocupados por efetivos;
·         Exoneração de 10% dos ocupantes de cargos admitidos em caráter temporário, exceto os da Secretaria de Educação, em decorrência do índice constitucional;
·         Proibição de contratação de horas-extras;
·         Redução de gastos com combustíveis;
·         Proibição de concessão de transferências financeiras a fundos e fundações para cobrir despesas com diárias;
·         Limitação de gastos com telefone, água e energia elétrica;
·         Reprogramação financeira de empenhos não liquidados;
·         Maior agilidade na cobrança da dívida ativa;
·         Por tempo indeterminado, deixar de prover cargos públicos;
·         Algumas secretarias serão agrupadas, ficando da seguinte forma: Secretaria de Administração e Fazenda, Secretaria de Comunicação e Governo, Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico;
·         Encerramento de ações ou convênios que representem despesas de natureza subvencionada pela municipalidade e não essenciais.

Diário Oficial do município desta terça-feira, 1º de outubro, traz os primeiros nomes e cargos que foram decepados. Vem mais por aí, conforme fui informado. Muito choro e ranger de dentes.
O ti-ti-ti é grande na cidade e vai aumentar o número de descontentes pelas esquinas tricentenárias, até porque na lista, constam conhecidos nomes que trabalharam pela eleição de Everaldo dos Santos/Ivete Scopel. Ou não?
Para conferir nomes e cargos, vocês que são sempre tão curiosos, basta clicar em: