terça-feira, 6 de setembro de 2016

Na Semana da Pátria de 1950 o Rio Grande do Sul homenageou Laguna

As comemorações cívicas da Semana da Pátria em 1950 começaram com a tradicional corrida do Fogo Simbólico partindo de nossa cidade em direção a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Laguna foi indicada por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, que a sugeriu à Liga de Defesa Nacional.
O motivo da escolha foi o passado histórico da cidade Juliana, ligado profundamente à conquista e povoamento do solo rio-grandense.
Da Laguna partiram os pioneiros povoadores, como João de Magalhães (genro de Francisco de Brito Peixoto), João Rodrigues Prates, Domingos Gomes Ribeiro, José Vicente Bandeira, João Braz Lopes, e outros que em 1725 se transferiram para as estâncias do sul e ali fixaram residência.
Um cartaz confeccionado pela Liga da Defesa Nacional - Diretório do Rio Grande do Sul, especialmente para divulgação do evento, mostra o percurso percorrido, os municípios por onde passou a Tocha até o seu destino.

Foto: Valmir Guedes Jr.

O Fogo Simbólico partiu de nossa cidade em 27 de agosto de 1950, levado até Florianópolis e depois seguindo por São José – Palhoça – Bom Retiro – Lages – Vacaria, cruzando diversos municípios da Serra Gaúcha e se desdobrando nas chamadas centelhas por várias outras localidades, praticamente cobrindo todo o vizinho estado. Chegou finalmente a Porto Alegre à zero hora do dia 1º de setembro daquele ano.
O desenho de um atleta no canto superior direito também se destaca na publicação, assim como um texto de abertura onde está escrito:

“Laguna é uma célula-mater na formação territorial e racial do Rio Grande do Sul.
Era a mais avançada das possessões portuguesas quando em 1860, Manuel Lobo fundou a Colônia de Sacramento, na atrevida e previdente marcha da política lusitana sobre o Rio da Prata.
Entre Laguna e Colônia – um deserto – que seria o Rio Grande... E esse Rio Grande, construído com o sangue, o suor e a lágrima de uma geração de heróis, teria um berço: Laguna”.

 Logo após, um belo escrito do poeta, jornalista, político e historiador Afonso Aurélio Porto, especialista na história do Rio Grande do Sul:

“Outros palmilharam os nossos rincões. Viram desdobrarem-se à frente numa alucinação gloriosa de beleza, as verdes planuras do meu pago, onde no dorso dos baguais indomáveis voaram os minuanos ginetes, sopesando as lanças legendárias, iluminuras fantásticas de primitivas arrancadas heroicas.
Outros desbravaram as serranias imperrias imperiais, estacando de súbito nas verdes clareiras iluminadas de sol, ante os desnivelamentos abruptos a cavaleiro dos pampas, verdes lençóis revoltos de pastagens, que seriam mais tarde o cenário magnífico em que os filhos dos lagunenses fundariam a primeira estirpe dos gaúchos.
Outros vieram e passaram. Mas vós ficastes. E o gaúcho deve proclamar com orgulho a sua filiação histórica”.

A solenidade cívico, religiosa e esportiva começou em nossa cidade às 7h15m do dia 27 de agosto, um domingo, na Praça Floriano Peixoto (hoje Vidal Ramos), com concentração de alunos dos estabelecimentos escolares, associações esportivas, associação de escoteiros e as Bandas Carlos Gomes e União dos Artistas.
Quinze minutos depois uma missa foi oficializada na igreja Matriz pelo padre Gregório Warmeling, da Paróquia Santo Antônio dos Anjos. A tocha foi acesa pelo vigário na “lâmpada sagrada da nossa igreja” e em seguida entregue ao prefeito da Laguna Alberto Crippa, que a conduziu pelas ruas Jerônimo Coelho e Raulino Horn até a Praça da Bandeira (hoje República Juliana).

O prefeito da Laguna Alberto Crippa, conduzindo a Tocha do Fogo Simbólico da Pátria, na então Praça da Bandeira. O segundo da esquerda para direita é o professor Ruben Ulysséa. Na extrema direita Júlio Marcondes de Oliveira.
Foto: Bacha
No local foi acesa a pira especialmente instalada à ocasião, cantado o Hino Nacional, e hasteada a Bandeira pelo jornalista Túlio de Rose, redator esportivo dos jornais Correio do Povo e Folha da Tarde e organizador da Corrida Simbólica.
Professor e historiador Ruben Ulysséa discursa na solenidade.
De costas o prefeito Alberto Crippa. Foto: Bacha
Durante as solenidades usaram da palavra o historiador lagunense, professor Ruben de Lima Ulysséa, e os deputados estaduais lagunenses Armando Calil Bulos e Oswaldo Rodrigues Cabral. (Sim, sim, leitor, é isso mesmo que você leu, Laguna já teve dois deputados na mesma legislatura!).
O dr. Tupi Barreto leu as mensagens enviadas ao povo lagunense pelo governador do Rio Grande do Sul, Walter Jobin, e pelo prefeito de Porto Alegre, Ildo Meneghetti.

O prefeito Alberto Crippa junto aos atletas que conduziram o Fogo Simbólico.
E finaliza toda garbosa a reportagem do jornal O Albor, há 66 anos atrás, descrevendo o final do evento, em extenso parágrafo, de um fôlego só, de onde retirei algumas dessas informações:

“E em presença de grande multidão que se encontrava na praça e ruas adjacentes, entregou o prefeito Alberto Crippa o facho simbólico da Pátria ao primeiro atleta, que sob vibrante salva de palmas circulou a Praça da Bandeira, partindo então, para sua gloriosa jornada cívica, deixando a arder de alegria e patriotismo não somente a pira simbólica no altar da Pátria, mas os corações agradecidos dos filhos de Brito Peixoto e João Magalhães, os intrépidos desbravadores de sertões e descampados, nas terras no sul, onde se levanta hoje a joia maravilhosa dos pampas e flameja a nossa querida bandeira, ao lado da gloriosa flama dos bravos farroupilhas”.

Um comentário:

  1. Muito bem lembrado essa passagem histórica de Laguna que muitos desconhecem.

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