quarta-feira, 14 de junho de 2017

Branquinho, o cão religioso

Seu porte é nobre, olhar altivo e atento. Apareceu há muitos meses na Praça Vidal Ramos, no centro histórico. Sem dono, lenço e documento.
No interior da matriz Santo Antônio dos Anjos fez morada. Não perde uma missa, inclusive a da saúde, nas quartas-feiras à tarde. Às vezes senta-se defronte ao altar; noutras, à entrada da igreja. Mas sempre em silêncio, compenetrado.
No princípio foi olhado com temeridade, e até com desprezo por alguns que diziam:
- “Onde já se viu, um cachorro dentro da igreja!
Mas, por sua mansidão, logo ganhou a simpatia de alguns fiéis. Virou meio que atração e motivo de curiosidade pra muita gente na Laguna.
Nas procissões à frente do cortejo, acompanha e observa o trajeto, cabeça erguida, às vezes em circunflexão, parecendo pensativo. Um olho no santo e outro nos devotos.
À frente da procissão. Fotos: Elvis Palma
De Branquinho o cachorro foi batizado. E Branquinho ficou, mesmo tendo o pelo malhado de um amarelo claro. É castrado e vacinado.
Já foi adotado, mas não houve adaptação. Retornou às ruas da cidade, mambembe por aí, livre, leve e solto.

Da Regina Carvalho da Rosa, principalmente, recebe a atenção e alimentação. Inclusive aos sábados, domingos e feriados. Marmitex disque-já.

Esteve presente em todas as novenas e acompanhou a transladação e procissão, inclusive até a igreja Nossa Senhora Auxiliadora, na Roseta. Na carreata percorreu um pequeno trajeto de alguns quarteirões, mas por falta de carona logo retornou à base, ao ponto de partida em frente à matriz. Sabia de antemão que o cortejo retornaria.
Na igreja da Roseta, acompanhando Santo Antônio dos Anjos.
Quando percebia as lentes do fotógrafo Elvis Palma mirando em sua direção, fazia pose, já saboreando a fama subitamente conquistada.
Recebendo o afago do maestro Deroci.
Na festejada apresentação da Banda Carlos Gomes na noite de ontem, último dia da festa, e bem ao lado da igreja, lá estava ele sobre o palco, juntamente com os músicos, igualmente recebendo os aplausos do público. E com direito a afago do maestro Deroci de Oliveira.

Há outros casos semelhantes acontecidos pelo Brasil. O noticiário vez ou outra mostra alguns exemplos. Mas como explicar tal fenômeno? É mero acaso? Natural? Algo espiritual? Acompanhará Branquinho alguém invisível aos nossos olhos? Ou carente, estará em busca de um desejado afago, de um carinho e atenção tal qual cada um de nós, nesse mundo conturbado, materialista e cada vez mais tão solitário?

Frade católico e franciscano à exemplo do nosso padroeiro Santo Antônio, Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis já pregava em seu Cântico das Criaturas:
- “Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as tuas criaturas”.

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